Tecendo a Manhã

I CONBAlf reúne pesquisadores, gestores, professores, estudantes e instituições de todo o país para discutir os sentidos da alfabetização


     

Acontece • Quarta-feira, 10 de Julho de 2013, 16:15:00

“Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.”

Os versos de João Cabral de Melo Neto deram início à cerimônia de abertura do I Congresso Brasileiro de Alfabetização (CONBAlf), na manhã desta segunda-feira (8). O evento, realizado pela Associação Brasileira de Alfabetização - ABAlf em parceria com instituições de ensino de todo o país, acontece de 8 a 10 de julho no Centro de Atividades Didáticas I (CAD I), na UFMG.

Em uma referência ao caráter construtivo-coletivo da educação, foi com o poema que a presidente da ABAlf,  Maria do Rosário Longo Mortatti, desejou boas vindas a todos os presentes e falou um pouco das expectativas para o evento. “A pluralidade de vozes aqui presentes favorece a riqueza do encontro. Esperamos que os resultados, se não coincidirem com o desejado, ao menos se aproximem do compromisso que assumimos com a sociedade”, afirmou Mortatti.

Em sua primeira edição, o CONBAlf reúne mais de 520 inscritos entre pesquisadores, gestores, professores, estudantes e instituições, além de 235 apresentações de trabalhos.

Aos passos de Freire

Um dos pontos altos deste primeiro dia de Congresso foi a homenagem prestada a Paulo Freire, patrono da ABAlf desde 2012. O pesquisador Mário Sérgio Cortella (PUC-SP) fez um breve percurso sobre a biografia do educador, seus feitos e ideologia, ressaltando seu papel como um dos maiores intelectuais do país. Seguindo a linha de trabalho de Freire, Cortella aproveitou o momento para levantar dados importantes sobre o analfabetismo no Brasil. “Em 1993, Paulo Freire fez um levantamento que identificou 20 milhões de analfabetos no Brasil. Hoje, 20 anos depois, esse número é de 15 milhões. Ainda temos 15 milhões de brasileiros que não sabem ler nem as palavras de nossa bandeira”.

O professor reafirmou ainda a importância de mirar a educação com um olhar positivo, confiante e objetivo. “A pior coisa que podemos ver é um educador resmungão. O pessimista se gaba por se considerar realista, enquanto se senta confortavelmente na cadeira da preguiça. Esse é o erro do resmungão”, brincou Cortella.

O saber, o fazer e o querer

Com o tema “Os sentidos da alfabetização: o que sabemos, o que fazemos, o que queremos?”, o I CONBAlf busca discutir as práticas e os rumos da alfabetização no Brasil de uma forma plural. Para Magda Becker Soares, professora emérita da Faculdade de Educação da UFMG e presidente de honra da ABAlf, é preciso pensar esses sentidos de maneira analítica e crítica.

Segundo Magda, um dos maiores problemas no campo da educação é o comodismo e a estagnação do profissional em um modo de fazer pré-estabelecido. A professora afirma que o alfabetizador deve abrir os braços ao novo e não ter medo de questionar as velhas práticas educacionais. “Na alfabetização, nós devemos reconhecer os múltiplos saberes e fazeres, para identificar o nosso querer em comum”, afirma eterna a professora, que finaliza sua palestra citando Saramago: “O mundo inteiro está dando respostas, o que falta é o tempo das perguntas”.

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